Exigindo material caro e importado, vitralistas lutam contra vandalismo e falta de valorização da arte
“A arte vitralista está em extinção”, afirma o artista plástico Aluizio Teixeira, de 79 anos, que criou e montou os vitrais das igrejas de Santa Inês e de São Cristóvão, em Belo Horizonte, e de São José Operário, em Timóteo, no Vale do Aço. “É arte muito linda, que inebria, leva a pessoa para um mundo encantado”, acredita. “Antiga e complicada”, segundo ele, a técnica é sofisticada: submete-se o desenho a minucioso detalhamento, especificando cortes dos vidros, que não podem fragmentar visualmente as figuras. Esses fragmentos são pintados com substâncais especiais e levados ao forno para serem queimados. Depois, são encaixados e soldados em rede de chumbo feita a partir da planta.
A restauradora Neusa Alvim, da Vare Vetri, diz que o ofício exige paciência, delicadeza, material caro e importado. Bons exemplos dessa arte, aponta ela, estão no Hospital Odilon Behrens, no Museu de Minas e Metais, em Belo Horizonte, e no mausoléu de Afonso Pena, em Santa Bárbara. No Colégio do Caraça podem ser admirados trabalhos franceses e doações de dom Pedro II.
O vandalismo indigna Neusa e a restauradora Maria Regina Ramos. A dupla está preocupada com a ação de alunos de um colégio vizinho à Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Sion, que prejudica a obra-prima que enfeita o templo. “É chocante. A escola deveria pagar a restauração e educar os estudantes para que o problema não continue”, defende Maria Regina. “É preciso levar os alunos até a igreja, ensinar que os vitrais são parte da nossa história. O problema é a falta de educação geral. Já restaurei vitral antigo e importante que foi quebrado para se passar pelo vidro um alto-falante”, lamenta Neusa Alvim.
O primeiro Ateliê pioneiro do vitral no Brasil, a Casa Conrado funcionou de 1889 até por volta de 1994, em São Paulo. Foi criada por Conrado Sorgenicht (1835-1901). Depois da morte dele, o trabalho continuou graças ao filho, Conrado Sorgenicht Filho (1869-1935) e ao neto Conrado Adalberto Sorgenicht (1902-1994).
Estima-se que o ateliê-oficina tenha produzido mais de 600 conjuntos em todo o país – a maior parte deles está em São Paulo, mas muitos ficam no Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Espírito Santo. Os trabalhos seguem técnica tradicional da Idade Média, mas ganharam luminosidade tropical graças ao criador da Casa Conrado. O ateliê atendeu encomendas para residências, vitrais sacros e para artistas como Portinari, Lasar Segall, Tomie Ohtake, Lina Bo Bardi e John Graz.
Restauradores acreditam que muitos dos vitrais de Belo Horizonte vieram da Casa Conrado, praticamente a única empresa brasileira do ramo. Datam de 1941, de acordo com assinaturas das peças, todos os 11 vitrais da Igreja São Francisco de Chagas, no Bairro Carlos Prates. O conjunto traz momentos essenciais da vida do santo e fatos ligados à ordem religiosa que leva o nome dele.
Monumental e impactante conjunto de 31 vitrais da Casa Conrado, criados por Omar Guedes, estão na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Sion, com narrativa sobre a história da Virgem Santíssima. Outras 21 peças, realizadas entre 1985 e 1992, estão no Santuário São Judas Tadeu, no Bairro da Graça.
Por Walter Sebastião